Raíssa Studart
Projeto Hospitalidade/Casa Aberta
Para a Residência Artística Hospitalidade/Casa Aberta gostaria de fazer do “Lugar de Suyan” abrigo de fragmentos perdidos no tempo e na cidade. Nas duas semanas de residência serei Investigadora das Coisas Desencontradas, começando da casa e indo para a cidade, sempre de olho no chão. É nesta superfície que terei os encontros com o que foi perdido – por pessoas ou pelo vento ou chuva ou poeira.
Pelas caminhadas na cidade, terei a chance de explorar uma cidade a qual nunca pisei, ruas que nunca tropecei e atalhos que ainda não tomei – a chance de me perder. Nesses encontros e desencontros, levarei comigo sacolas para coleta (dimensões de bolso, dimensões de fragmentos), diário de bordo e câmera fotográfica. Coletarei objetos e informações do tempo e espaço – cartografia afetiva. Aqui consolida-se o diálogo com a cidade e, também, com as pessoas que a habitam.
Em minha experiência com caminhadas de coletas, existem características que se repetem dentro das sacolas ao final do dia–dimensões de bolso, partes de um todo, cores exorbitantes, potencial mágico, pedras, brilhos e geometrias.
Coletado os materiais, é preciso me apresentar a eles individualmente, isolados do contexto da cidade. Existe uma gravidade na materialidade dos objetos perdidos que me puxa incessantemente – não saber de nada sobre a coleta até segurá-la em minhas mãos e deixar que ela própria denuncie o que puder sobre suas origens e desencontros. Esses objetos estão perdidos antes ou depois de meu encontro com eles? E depois?
Após a catalogação é possível testar as maneiras de expografia de acordo com as características individuais de cada objeto– quais são de aglomerar, isolar, empilhar, pendurar, guardar, enterrar. É no exercício da hospitalidade que poderei criar espaços no “Lugar de Suyan” para os pequenos perdidos. Estar disponível para recepcionar objetos que nada se sabe sobre, estar disponível para dialogar com eles, estar disponível para acolher.
