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Danillo Butas

Proposta URBANO ABS TR A TO por Danillo Butas

Na dinâmica contemporânea das cidades, somos induzidos à um caminhar mais veloz, e ao ritmo do automóvel não nos atentamos às sutilezas de uma cidade. Em uma caminhada pelas ruas é possível perceber quantos detalhes nos passam despercebidos, como gradis, ornamentos, azulejos, letreiros, pessoas, histórias. E nesse processo de contemporaneidade, esse importante acervo de patrimônio material e imaterial está desaparecendo, demolido pela brutal dinâmica imobiliária.

Embora aparentem ser um objeto concreto e estático, as cidades podem ser entendidas como o resultado da apropriação cultural, ou seja, estar em constante ocupação e transformação pela sociedade e com isso a nossa percepção e vivência desses espaços urbanos também passam por uma constante ressignificação.

“CIDADE: REDE DE LUGARES DE EXISTÊNCIAS, de densidades e de superfícies corpóreas. LUGARES DE MOVIMENTO, de pressas, lentidões, pausas, asfixias e paralisias. Redes de encontros e territórios de desencontros. LUGARES DE VAZIOS, desertos, sertões. ESPAÇOS DO CONHECIMENTO, SABERES E SABORES. Territórios da razão. LUGARES DE AFETO, DE VIVÊNCIAS, DE EXPERIÊNCIAS. Espaços de limites, de fronteiras e sobrevoos, de todas as espécies, que fazem ver o que do terreno é invisível. Lugares de perguntas e territórios de respostas. TERRITÓRIOS DE FORTES QUESTÕES E DE FRÁGEIS RESPOSTAS PROVISÓRIAS. Lugares de derrotas sobre as quais não se fala: derrotas invisíveis. Lugares de expressão, de ação. Territórios de conquistas de poucos, quando muitos experimentam esquecimentos e fracassos. CIDADE PARA POUCOS E DE MUITOS. Moderna cidade, metrópole, globalizada cidade feita de teoria do planejamento e de prática política excludente. CIDADE, TAMBÉM, DE PRÁTICAS DE TODAS AS ESPÉCIES QUE FAZEM A EXISTÊNCIA E O EXISTIR NA CIDADE E NOS LUGARES DA CIDADE; NAS CIDADES DA CIDADE. Espaços de técnica e de arte. Territórios de saberes desqualificados que, por sua vez, fazem a vida que, também, ignora a ciência. Saberes de arte. ARTE DE VIVER E DE SOBREVIVER. Arte de dar vida aos corpos de todas as espécies. CORPOS- PAISAGEM, LUGARES-COTIDIANOS, territórios de possibilidades e significancias.”1 (HISSA, WSTANE: 2009)

A proposta do projeto parte do desenvolvimento de uma obra/catálogo que visa o conhecimento e reconhecimento desse importante acervo cultural do povoado de Olhos D’Agua.

Através da experimentação sensorial urbana, o projeto é dividido em 3 etapas: a primeira etapa se caracteriza no estudo do lugar, na deriva pela urbe. A segunda parte no desenvolvimento de um acervo material e criativo da região escolhida. A terceira etapa é a elaboração de uma obra-instalação em uma área urbana e outra em um espaço cultural (galeria, museu), criando um diálogo cidade-obra.

ETAPA 1 . DERIVA

“Se Perder, Lentidão, Corporeidade, que remetem à própria ação, ou seja, a prática ou a experiência do espaço urbano, o errante urbano se relaciona com a cidade, a experimenta, e este ato de se relacionar com a cidade implica nesta entre seu próprio corpo físico e o corpo urbano”. (BERENSTEIN, 2003)

Permanecer, se perder, encontrar, conhecer, resistir e registrar. Essas são as intenções para a primeira etapa do projeto. Ir para a rua, vivenciar o cotidiano ordinário, seus praticantes, suas histórias e lendas, seus cheiros e sabores, sua hospitalidade.
É a etapa inicial da busca pela matéria prima conceitual que norteará a produção da obra. Um trajeto será determinado para o foco da pesquisa, podendo ser uma rua, grupo de ruas ou todo o povoado.

ETAPA 2 . ACERVO

Toda a matéria prima material e intelectual a ser utilizada no desenvolvimento da obra seria proveniente da região escolhida. A obra tem o intuito de registrar esses importantes elementos que constituem o cotidiano do povoado e criar um acervo material através de fotografias, materiais, croquis, entrevistas, e registros de ruídos urbanos, cheiros e sabores.

ETAPA 3 . DESENVOLVIMENTO DA OBRA

“Se a noção de imaginário está ligada a um poder simbólico, podemos então pensar que o imaginário urbano tem relação com a maneira como interpretamos e experienciamos a cidade e os elementos urbanos, em níveis simbólicos e subjetivos. Nos processos de ocupação de espaços urbanos, as obras de arte e os movimentos ativistas criam outros imaginários: novas formas de se relacionar, organizar, construir e viver a cidade.” Campbell (2015).

É a partir do estudo desenvolvido nas etapas anteriores que é possível chegar em uma obra final. A obra só existe através dessa experimentação ordinária do cotidiano urbano, do percorrer ruas, becos, conversar, conhecer e permanecer. Expressar essas sensações e descobertas será o grande desafio de todo o processo. Traduzir de forma imagética e sensorial essa vivência afetiva é poder trazer novos olhos e novos significados para essas sutilezas do cotidiano ordinário que nos permeia.

Curadoria Suyan de Mattos  Hospitalidade/Casa Aberta

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