
Leci Augusto
Projeto Hospitalidade/Casa Aberta
Minha motivação primordial Olhos D’água é, de fato, poder entrar em contato com as mulheres da cidade, permitindo-me participar deste mundo no qual as mulheres, muitas vezes, confiam na memória. Esta motivação começou recentemente, mas especificamente há dois anos, quando a cidade se tornou parte da minha vida. É estimulante estar na cidade constantemente, participar da vida local e ser afetada por ela. A cidade de Olhos D’água, acordando com Milton Santos (2001, p.96), é o território. “E o território é o chão e mais a população (...), o fato e o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. O território é a base do trabalho, da residência, das trocas materiais e espirituais e da vida, sobre as quais ele influi. Quando se fala em território, deve-se, de logo, entender que se está falando em território usado, percorrido, utilizado por uma dada população”. Neste projeto, pretendo compor, recompor, criar e recriar, de forma poética, através de uma instalação, as memórias e os fazeres das mulheres desta cidade, seu universo feminino e sua poesia. Nosso interesse recai na transmissão e produção das histórias de vida com significado rico e simbólico, de dimensões artísticas e culturais, ligadas ao ato de costurar peças do vestuário íntimo e feminino, dos seus guardados, muitas vezes transmitidos entre gerações. Não se pretende ler as histórias de vida das mulheres sob a perspectiva positivista, mas interessa a forma que as mulheres transmitem, culturalmente, na família, os modelos e as tradições, que fazem parte da memória coletiva artística desta comunidade rural.
